Microscopia na endodontia: faz a diferença?
Você sabe por que a microscopia na endodontia tem ganhado cada vez mais espaço nos procedimentos? Entender sobre o assunto é importante...
9 min. de leitura
-24 de março de 2023
Você sabe por que a microscopia na endodontia tem ganhado cada vez mais espaço nos procedimentos? Entender sobre o assunto é importante, tendo em vista que o uso do microscópio é cada vez mais frequente para a realização de diagnósticos, procedimentos cirúrgicos, não cirúrgicos e tratamentos com segurança e qualidade.
Angelo Menezes Freire (CRO-BA: 2.416), mestre e especialista em endodontia, coordenador científico e professor do Inmagni (Centro Avançado de Endodontia com Microscopia) e professor convidado de cursos de especialização e mestrado em Endodontia, vai esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Confira!
Qual a importância da magnificação na endodontia?
Por muitas décadas, a endodontia clássica tem atuado de forma promissora, aumentando os índices de sucesso. No entanto, ainda perduram conceitos antigos, que já foram substituídos pela endodontia contemporânea. Hoje, já se contempla a incorporação e associação de toda tecnologia endodôntica integrada.
É importante ressaltar que o sucesso da endodontia depende de paciência, destreza e experiência profissional. No entanto, a introdução de inovações, como a microscopia operatória na endodontia, eliminou muito tempo perdido.
Ela melhora a performance do profissional, com manobras mais efetivas a partir da magnificação e intensa iluminação proporcionada pelo microscópio operatório. Assim, torna os procedimentos mais rápidos, precisos e com maior segurança.
O campo de trabalho do endodontista sempre foi obscuro e muito complexo, necessitando de muita imaginação e paciência por parte do profissional. A magnificação foi um divisor de águas, identificando áreas antes nunca vistas e tratadas, proporcionando ao endodontista um tratamento mais profícuo e previsível.
Quais são os tipos de magnificação que temos disponíveis no mercado?
Existem dois tipos de magnificação: por meio de lupas e do microscópio operatório. As lupas têm algumas vantagens, já que não precisam de um treinamento tão intenso quanto o realizado com o microscópio operatório. Portanto, a curva de aprendizado é muito menor.
Elas são leves, portáteis e mais fáceis de usar, já que a visão é acompanhada com simples movimentação da cabeça podendo, em muitas situações, ter uma visão direta da área a ser tratada. Mas o desconforto e a fadiga acompanham o profissional devido à inclinação do pescoço do operador.
Diferentemente das lupas, o microscópio operatório é uma ferramenta de trabalho que proporciona magnificação em diferentes níveis e iluminação intensa coaxial, podendo penetrar em profundidade. Ele proporciona diversas vantagens, por exemplo, ergonomia e precisão, e tem grande utilidade como ferramenta auxiliar nos procedimentos.
Como funciona a curva de aprendizado até se chegar na microscopia na endodontia?
É imperial o treinamento intensivo por parte do profissional que adquire o microscópio operatório, pois existem muitas nuances relacionadas ao seu uso. A visão indireta é necessária com utilização de espelhos especiais de primeiro plano e dimensões apropriadas.
Na faculdade, aprendemos a trabalhar em pacientes sem o microscópio operatório, com utilização da visão direta. Isso cria um hábito de posturas inadequadas por anos, tornando o profissional apto a trabalhar de determinada forma. É por isso que se torna mais difícil uma nova postura, já que o cérebro já está acostumado a trabalhar da forma que aprendeu e utilizou ao longo da carreira.
Para uma mudança de hábitos, o sacrifício é grande, o que desestimula a maioria. O posicionamento do espelho, com distanciamento adequado, no sentido do longo eixo do dente, visualizando os canais em profundidade, não é tarefa fácil.
Muitos profissionais trabalham bem com o posicionamento dos espelhos, porém, insuficientes para as manobras, por estarem muito próximos do dente e sem espaço para inserir e manusear os instrumentos. Portanto, é fundamental uma qualificação por meio de cursos de treinamento intenso.
Qual é a diferença entre um tratamento sem e com a microscopia na endodontia?
O olho humano permite focalizar um objeto e administrar a quantidade de luz que entra para produzir uma imagem nítida. Sob esse entendimento, pode ser comparado a um equipamento fotográfico, tendo em vista que ambos têm abertura para a passagem de luz.
Mas há limitações em relação à profundidade e à distância, necessitando de recursos complementares. Isso gera a dificuldade de visualizar o interior da boca, não só devido à pequena abertura, mas pelo fato de se ter muitas estruturas com diversidade de curvas, volumes e formas.
Entre elas, língua, bochechas e muitos órgãos dentários. Além da anatomia, tem a saliva e o vapor bucal. Isto é, um meio complexo, escuro, úmido e contaminado. Soma-se a isso o fato de ser uma cavidade escura, impede a visão, pois o olho humano não tem a capacidade de enxergar no escuro.
A magnificação na odontologia é fundamental em diversos aspectos. Um dos mais importantes é proporcionar ao profissional que trabalhe com menores desgastes dos tecidos, mas suficientes para interferir na causa da patologia instalada, conhecidos como tratamentos minimamente invasivos.
Outro ponto é que a ergonomia proporcionada pelo equipamento é excelente. Isso porque reduz o estresse devido à menor fadiga submetida pelo profissional devido ao posicionamento. Isso gera maior desenvoltura e tranquilidade durante os tratamentos.
Também, propicia melhores condições de trabalho em áreas antes inacessíveis ao olho humano, e que não recebiam tratamento adequado, tornando o prognóstico, muitas vezes, duvidoso.
A área tratada, quando ampliada, requer movimentos menores e mais precisos, como também, instrumentos apropriados e de menor porte para atuar nessas diminutas regiões. Então, é importante ressaltar que a realização dessas novas abordagens é apenas para mãos treinadas e bastante habilidosas.
Esses instrumentos só devem ser utilizados com magnificação, pois vão trabalhar em áreas bem pequenas e visualizadas em alta definição.
Quais são os benefícios que ela traz?
O microscópio operatório apresenta vários níveis de magnificação e iluminação coaxial (com penetração em profundidade), ergonomia, registro para documentação legal e comunicação concomitante com a pessoa assistente e com o paciente. Isso ajuda a evidenciar pontos importantes para que ele possa entender melhor o que foi ou está sendo realizado.
Também, facilita a obtenção do controle da infecção, pois identifica as áreas comprometidas, facilitando a visão do profissional. Consequentemente, favorece a limpeza de áreas não visualizadas pelo olho humano.
O microscópio operatório, além de promover as vantagens diretas como ferramenta, conduz o tratamento de tal forma que há necessidade de aplicar novos conceitos. Com isso, obtém-se técnicas mais aprimoradas com novos materiais, além do uso de manobras específicas e precisas.
Isso dá mais segurança e praticidade, culminando em um melhor prognóstico em boa parte das situações que inicialmente eram consideradas sombrias.
Quais são os casos em que ela é essencial na endodontia?
Cada passo da endodontia tem a sua devida importância para que o procedimento seguinte seja bem realizado. Portanto, a associação da magnificação com instrumentos apropriados proporciona um campo operatório bem definido, dando condições para a ação dos microinstrumentos nas áreas propostas. Veja em quais casos pode ser usada!
Diagnóstico de trincas ou fissuras
A detecção de uma possível trinca é um fator imperial para selecionar o dente a ser tratado. Na maioria das vezes, as imagens radiográficas, incluindo as tomografias, não são capazes de detectar uma fissura ou trinca do elemento dental comprometido, portanto, a utilização de recursos de magnificação com intensa iluminação é a melhor e mais segura opção.
Identificação de canais extras
Uma grande porcentagem de canais radiculares não são encontrados e, portanto, não tratados. Uma das consequências é a persistência de sintomatologia dolorosa, sem que o problema seja identificado.
Com uma magnificação adequada e iluminação apropriada (co-axial), conjugando com microinstrumentos, podendo ser brocas ou insertos ultrassônicos, a detecção desses canais obstruídos fica mais evidente e o tratamento é melhor conduzido.
Tratamento de istmos e reentrâncias
Um dos fatores que mais interferem, dificultando a realização da terapia endodôntica, é a anatomia interna dos canais radiculares. Ela é composta por um sistema de canais radiculares, canalículos, ramificações, reentrâncias, depressões e cul-de-sac. Forma um complexo arranjo com comunicações, composto de canais principais, laterais, secundários, acessórios, intercondutos, colaterais e delta apicais.
É importante ressaltar que para limparmos uma área com eficiência, é necessário enxergar para que o instrumento toque nela e limpe, por meio de ação mecânica associada à substância química auxiliar.
Cirurgia parendodôntica
Na Cirurgia Parendodôntica, é imperial o uso da magnificação para visualizar áreas comprometidas e de pequenas dimensões, como: ápices trincados, reabsorções apicais e durante a retroinstrumentação ter uma visão adequada do retropreparo com uso dos micros espelhos. Assim como, também, durante a inserção do cimento biocerâmico retrobturador, que deve ser colocado de forma precisa.
Como pode perceber, a microscopia na endodontia é fundamental para a qualidade e a eficiência dos serviços prestados. No entanto, para que isso ocorra, é preciso que os profissionais estejam capacitados para manusear os instrumentos e, assim, atuar com habilidade e precisão.
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