Como funciona a terapia medicamentosa em Endodontia?

Embora o tratamento endodôntico deva ser considerado mais do ponto de vista cirúrgico, muitas vezes, a terapia medicamentosa em Endodontia se faz necessária para ajudar a contornar alguns problemas que podem surgir. Nesse sentido, os medicamentos podem ser importantes em casos de infecção, inflamação e dor, já que proporcionam mais conforto e segurança ao paciente. […]

Angelus

7 min. de leitura

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17 de março de 2023

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Embora o tratamento endodôntico deva ser considerado mais do ponto de vista cirúrgico, muitas vezes, a terapia medicamentosa em Endodontia se faz necessária para ajudar a contornar alguns problemas que podem surgir. Nesse sentido, os medicamentos podem ser importantes em casos de infecção, inflamação e dor, já que proporcionam mais conforto e segurança ao paciente.

Para um melhor entendimento sobre a aplicação de terapia medicamentosa, entrevistamos Ana Grasiela da Silva Limoeiro (CRO-BA: 3540), Especialista e Mestre em Endodontia e Doutora em Clínicas Odontológicas. Também coordena os cursos de aperfeiçoamento e especialização em Endodontia da CORE Cursos Vitória da Conquista-Bahia e atua como revisora de artigos científicos da WG Review.

Boa leitura!

 

Como o diagnóstico e o tratamento influenciam na escolha pela terapia medicamentosa?

O diagnóstico e o plano de tratamento vão determinar o quão invasivo será determinado procedimento, indicando, assim, maior ou menor chance de ocorrer uma dor pós-operatória.

Além disso, o diagnóstico aliado a história médica do paciente, definirá a necessidade ou não da prescrição de uma determinada classe de medicamento.

 

Quais medicamentos são comumente utilizados na endodontia?

Os medicamentos da classe dos analgésicos, anti-inflamatórios e ansiolíticos são comumente utilizados na Endodontia. A primeira dose do analgésico deve ser introduzida, preferencialmente, com o paciente anestesiado, logo após o procedimento.

O uso de ansiolíticos está indicado quando não é possível condicionar o paciente somente pela tranquilização verbal e pode ser usado também como medicação pré-anestésica para drenagem de abcessos, por exemplo.

A prescrição de antibióticos é necessária em casos específicos, como:

  • tratamento de abcessos em pacientes imunossuprimidos;
  • pessoas que apresentam alguma doença metabólica — como diabetes, por exemplo;
  • quando os abcessos apresentam sinais locais de disseminação — limitação para abrir a boca, linfadenite, celulite;
  • manifestações sistêmicas da infecção — febre, taquicardia, falta de apetite e mal-estar geral.

 

Qual é a importância da terapia medicamentosa?

A terapia medicamentosa atua como coadjuvante no tratamento endodôntico, diminuindo o desconforto pós-operatório e as chances de disseminação sistêmica de uma infecção avançada. Além disso, ajuda a controlar o quadro de ansiedade do paciente no transoperatório.

 

Em quais casos seria mais prudente o uso da terapia medicamentosa?

Em casos de pacientes que apresentam sintomatologia prévia, como pulpite irreversível, pericementites, abcessos periapicais agudos e em casos de cirurgias perirradiculares, podemos prescrever medicação analgésica.

Também é indicada para os pacientes portadores de abcessos periapicais e doenças sistêmicas que induzem alterações metabólicas ou imunossupressão, como diabetes, doença renal crônica e aguda, com sinais de disseminação sistêmica.

Além desses casos, também auxilia na prevenção de endocardite bacteriana em pacientes com determinadas cardiopatias, além daqueles que apresentam alterações sistêmicas importantes, como o diabetes não controlado e a insuficiência renal.

 

Por que não se deve utilizar a terapia medicamentosa em todo e qualquer caso indiscriminadamente? 

Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos medicamentos são indicados, dispensados ou utilizados de maneira imprópria, o que acarreta muitos riscos à saúde dos pacientes.

Isso porque o uso indiscriminado de antibióticos, associado a prescrições imprecisas e à automedicação, leva à diminuição da eficácia desses fármacos devido à seleção de cepas bacterianas resistentes.

A resistência aos antibióticos ocorre quando determinada bactéria se modifica como resposta ao uso dos medicamentos. Esses microrganismos, denominados superbactérias, representam um desafio no controle de infecções, pois há resistência bacteriana até mesmo contra as classes de antibióticos de última geração.

Como resultado, as infecções persistem no organismo, podendo se agravar.

 

Quais são os riscos para a saúde do paciente na utilização de medicamentos pós-tratamento?

É responsabilidade do cirurgião-dentista, a prescrição de medicamentos com indicação comprovada cientificamente em odontologia, incluindo os de uso controlado, conforme a Lei 5.081, de 24 de agosto de 1966.

Nesse sentido, é preciso considerar que os riscos na utilização de medicamentos podem envolver reações alérgicas, dependência, intoxicação e resistência aos medicamentos, conforme observações a seguir.

 

Reações alérgicas

As reações alérgicas não são relacionadas à dose, e sim a uma exposição prévia a um determinado medicamento. Elas surgem quando o sistema imunológico do corpo desenvolve uma reação inadequada à composição do medicamento.

Após uma primeira sensibilização, exposições tardias ao mesmo medicamento podem produzir diversos tipos de reação alérgica, como as cutâneas e respiratórias.

 

Dependência física e psicológica

Quanto à dependência medicamentosa, ela pode ser física ou psicológica (ou ambas). No primeiro caso, ao cessar o uso da substância, surgem sintomas e sinais, como tremores, dores musculares e sudorese.

Já a dependência psicológica se relaciona a um mal-estar e desconforto quando a utilização do fármaco é interrompida, podendo gerar ansiedade, crises de choro, insônia, entre outros.

 

Intoxicações

Quando utilizadas de maneira errada, as medicações podem se transformar em veneno e provocar complicações. Para que os medicamentos proporcionem os benefícios desejados, é preciso que o paciente faça um uso consciente de medicamentos e que a prescrição seja realizada da maneira correta.

Segundo publicação da FOUSP (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo) a OMS considera o uso consciente de medicamentos aquele em que os pacientes recebem prescrições de fármacos condizentes com seus estados clínicos, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período condizente e com o menor custo para si.

 

Por que a anamnese e o diagnóstico são tão importantes para a escolha do melhor tratamento?

Porque são cruciais para o entendimento do histórico do paciente e a correta identificação do problema. Dessa forma, são as etapas fundamentais para definir a necessidade da medicação pré ou pós-operatória.

 

Existe algo que não foi perguntado sobre o assunto que você queira mencionar?

Um dos maiores erros na prescrição medicamentosa em Endodontia é a prescrição de antibióticos em casos de pulpite ou abcessos sem disseminação sistêmica.

Em 2019 foi publicado um artigo na JADA (Journal of the American Dental Association) que destacou que 85% das prescrições de antibióticos nos Estados Unidos não tinham indicação. No Brasil, uma pesquisa do mesmo período, realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Data Folha e publicada pelo Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRFSP) apontou que 77% dos brasileiros têm o hábito de se automedicar — desse total, 42% se automedicam com antibióticos.

Nesse sentido, gostaria de alertar os profissionais sobre o uso indiscriminado de antibióticos. A ADA (American Dental Association) sugere a prescrição de antibióticos para pacientes adultos imunocompetentes (com capacidade de responder a um desafio bacteriano), com necrose pulpar e abscesso periapical agudo localizado em lugares onde o tratamento odontológico conservador definitivo não está disponível.

Essa recomendação é específica para situações em que o risco de envolvimento sistêmico é alto e o paciente pode não ter acesso imediato ao atendimento.

Além disso, a Associação orienta a não prescrever antibióticos a pacientes adultos imunocompetentes com pulpite irreversível sintomática com ou sem periodontite apical sintomática, necrose pulpar e periodontite apical assintomática. Essa orientação inclui, ainda, pacientes com necrose pulpar e abscesso periapical agudo presente, em locais onde o tratamento odontológico conservador definitivo esteja disponível, devido a potenciais benefícios insignificantes da medicação e prováveis grandes danos associados ao seu uso.

 

Esperamos que os esclarecimentos dessa entrevista tenham ajudado você a entender melhor sobre como funciona a terapia medicamentosa em Endodontia. Nesse sentido, é sempre importante considerar que o sucesso do tratamento endodôntico depende essencialmente da anamnese e diagnóstico correto, bem como da utilização de produtos de qualidade.

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